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    PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA

    Pergunto-te onde se acha a minha vida.
    Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
    de uma verdade minha bem possuída

    Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

    E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
    por esperanças hereditárias? E de cada
    pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
    que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

    Já não sei mais a diferença
    de ti, de mim, da coisa perguntada,
    do silêncio da coisa irrespondida.

    Cecília Meireles


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  • Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.

    Cecília Meireles


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    Ainda que sendo tarde e em vão,
    perguntarei por que motivo
    tudo quando eu quis de mais vivo
    tinha por cima escrito: "Não"

    Cecília Meireles


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  • Eu

     

    Eu sou a que no mundo anda perdida,

    Eu sou a que na vida não tem norte,

    Sou a irmã do Sonho,e desta sorte

    Sou a crucificada ... a dolorida ...

    Sombra de névoa tênue e esvaecida,

    E que o destino amargo, triste e forte,

    Impele brutalmente para a morte!

    Alma de luto sempre incompreendida!...

    Sou aquela que passa e ninguém vê...

    Sou a que chamam triste sem o ser...

    Sou a que chora sem saber porquê...

    Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

    Alguém que veio ao mundo pra me ver,

    E que nunca na vida me encontrou!



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  •  Lágrimas ocultas

     

     

    Se me ponho a cismar em outras eras

    Em que ri e cantei, em que era querida,

    Parece-me que foi noutras esferas,

    Parece-me que foi numa outra vida...

     

    E a minha triste boca dolorida,

    Que dantes tinha o rir das primaveras,

    Esbate as linhas graves e severas

    E cai num abandono de esquecida!

     

    E fico, pensativa, olhando o vago...

    Toma a brandura plácida dum lago

    O meu rosto de monja de marfim...

     

    E as lágrimas que choro, branca e calma,

    Ninguém as vê brotar dentro da alma!

    Ninguém as vê cair dentro de mim!

     

                                 Florbela Espanca


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