• Fernando Pessoa

     

    Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa13 de Junho de 1888

     

    — Lisboa30 de Novembro de 1935), mais conhecido como

     

    Fernando Pessoa, foi um poetafilósofo e escritor português.

  • Não sei quantas almas tenho

     

    Não sei quantas almas tenho.

    Cada momento mudei.

    Continuamente me estranho.

    Nunca me vi nem acabei.

    De tanto ser, só tenho alma.

    Quem tem alma não tem calma.

    Quem vê é só o que vê,

    Quem sente não é quem é,

     

    Atento ao que sou e vejo,

    Torno-me eles e não eu.

    Cada meu sonho ou desejo

    É do que nasce e não meu.

    Sou minha própria paisagem;

    Assisto à minha passagem,

    Diverso, móbil e só,

    Não sei sentir-me onde estou.

     

    Por isso, alheio, vou lendo

    Como páginas, meu ser.

    O que segue não prevendo,

    O que passou a esquecer.

    Noto à margem do que li

    O que julguei que senti.

    Releio e digo: “Fui eu?”

     

    Deus sabe, porque o escreveu.


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  •  

    Presságio

     

    O amor, quando se revela,

    Não se sabe revelar.

    Sabe bem olhar pra ela,

    Mas não lhe sabe falar.

     

    Quem quer dizer o que sente

    Não sabe o que há de dizer.

    Fala: parece que mente…

    Cala: parece esquecer…

     

    Ah, mas se ela adivinhasse,

    Se pudesse ouvir o olhar,

    E se um olhar lhe bastasse

    Pra saber que a estão a amar!

     

    Mas quem sente muito, cala;

    Quem quer dizer quanto sente

    Fica sem alma nem fala,

    Fica só, inteiramente!

     

    Mas se isto puder contar-lhe

    O que não lhe ouso contar,

    Já não terei que falar-lhe

     

    Porque lhe estou a falar…


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  •  

    Todas as cartas de amor são


    Ridículas.


    Não seriam cartas de amor se não fossem


    Ridículas.

     

    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,


    Como as outras,


    Ridículas.

     

    As cartas de amor, se há amor,


    Têm de ser


    Ridículas.

     

    Mas, afinal,


    Só as criaturas que nunca escreveram


    Cartas de amor


    É que são


    Ridículas.

     

    Quem me dera no tempo em que escrevia


    Sem dar por isso


    Cartas de amor


    Ridículas.

     

    A verdade é que hoje


    As minhas memórias


    Dessas cartas de amor


    É que são


    Ridículas.

     

    (Todas as palavras esdrúxulas,


    Como os sentimentos esdrúxulos,


    São naturalmente


    Ridículas.)


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  •  

    Eu não sei senão amar-te,


    Nasci para te querer.


    Ó quem me dera beijar-te,


    E beijar-te até morrer.

     

     

    Fernando Pessoa


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  • O AMOR, quando se revela,


    Não se sabe revelar.


    Sabe bem olhar p'ra ela,


    Mas não lhe sabe falar.



    Quem quer dizer o que sente


    Não sabe o que há de dizer.


    Fala: parece que mente...


    Cala: parece esquecer...



    Ah, mas se ela adivinhasse,


    Se pudesse ouvir o olhar,


    E se um olhar lhe bastasse


    P'ra saber que a estão a amar!



    Mas quem sente muito, cala;


    Quem quer dizer quanto sente


    Fica sem alma nem fala,


    Fica só, inteiramente!



    Mas se isto puder contar-lhe


    O que não lhe ouso contar,


    Já não terei que falar-lhe


    Porque lhe estou a falar...

     

     

    Fernando Pessoa


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