• Mãe

    Mãe:

    Que desgraça na vida aconteceu,

    Que ficaste insensível e gelada?

    Que todo o teu perfil se endureceu

    Numa linha severa e desenhada?

     

    Como as estátuas, que são gente nossa

    Cansada de palavras e ternura,

    Assim tu me pareces no teu leito.

    Presença cinzelada em pedra dura,

    Que não tem coração dentro do peito.

     

    Chamo aos gritos por ti — não me respondes.

    Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.

    Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes

    Por detrás do terror deste vazio.

     

    Mãe:

    Abre os olhos ao menos, diz que sim!

    Diz que me vês ainda, que me queres.

    Que és a eterna mulher entre as mulheres.

    Que nem a morte te afastou de mim!

     

     

    Miguel Torga, in 'Diário IV'


  • Commentaires

    1
    Jeudi 14 Mai 2015 à 19:34

    Olá e obrigado pela visita e comentários

    Eu li todos os seus poemas, mas eles são muito bonitos

    Boa sorte e espero vê-lo

    até breve

    sinceramente

    C.Laurette

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