• A Velhice Pede Desculpas

     

    A Velhice Pede Desculpas

    Tão velho estou como árvore no inverno, 
    vulcão sufocado, pássaro sonolento. 
    Tão velho estou, de pálpebras baixas, 
    acostumado apenas ao som das músicas, 
    à forma das letras. 

    Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético 
    dos provisórios dias do mundo: 
    Mas há um sol eterno, eterno e brando 
    e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. 

    Desculpai-me esta face, que se fez resignada: 
    já não é a minha, mas a do tempo, 
    com seus muitos episódios. 

    Desculpai-me não ser bem eu: 
    mas um fantasma de tudo. 
    Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, 
    com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. 

    Desculpai-me viver ainda: 
    que os destroços, mesmo os da maior glória, 
    são na verdade só destroços, destroços. 

    Cecília Meireles, in 'Poemas (1958)'

  • Commentaires

    1
    jurema rodrigues
    Jeudi 26 Mars 2015 à 08:53

    nossa miga este poema é lindo e este seu novo cantinho é maraaaaa

     

    2
    Jeudi 26 Mars 2015 à 15:32

    Obrigada Ju pela visita. São os meus poemas favoritos, estou a fazer um apanhado.

    Beijinhos

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